Por:
Luigi
Wagner
Depois de passar anos refém do
modelo de anualização imposto pela Ubisoft a partir do segundo jogo em 2009, Assassin’s Creed só foi ganhar um descanso
momentâneo entre 2015 (Syndicate) e
2017 (Origins), quando, na tentativa
de dar um overahaul geral na série
com Assassin’s Creed: Origins, a
Ubisoft deu a primeira adentrada apropriada da franquia no âmbito dos RPGs
ocidentais modernos.
Chegando agora apenas um
anos após o lançamento do jogo (apesar da companhia prometer “não haver nenhum
novo game na série em 2019”), Assassin’s
Creed: Odyssey é a oficialização de Assassin’s
Creed como não mais um mero jogo de ação e aventura com elementos de RPG,
mas um RPG ocidental propriamente dito, nos moldes de gigantes como The Witcher 3: Wild Hunt e Skyrim.
Situando-se em uma Grécia Antiga,
em 431 AC (ou seja, 400 anos antes do jogo anterior), Odyssey contextualiza sua história em meio a Guerra do Peloponeso –
guerra que se estendeu entre várias cidades-estado gregas (em especial entre
esforços liderados por Esparta e Atenas). Em meio ao conflito, (pela primeira
vez na série) temos a possibilidade de escolher entre dois protagonistas para
liderar a história: Kassandra (Melissanthi Mahut) ou Alexios (Michael Antonakos). Feita a
escolha, o jogador, no papel de misthios
(Mercenário), acompanhará a história de um dos irmãos à medida que este
desvenda mistérios acerca de seu passado em meio ao pano de fundo da guerra.
[Como o redator que vos escreve acompanhou a história
sob a perspectiva de Kassandra, é esta que será tomada como base para análise].
Longe de ser original em termos de trama ou abordagem
narrativa para um RPG do gênero, Assassin’s
Creed: Odyssey atinge moderado sucesso em manter o jogador compelido a
chegar ao final de sua (absurdamente) extensa linha narrativa principal (que,
por si só, divide-se em outras linhas adjacentes).
Eficiente ao possibilitar o jogador a definir de forma
geral como Kassandra se porta em situações de decisão ou de peso moral, é
possível moldar a protagonista em uma mulher mais comedida, calma e calculista
ou então transformá-la em uma guerreira mais movida por impulsos, agressividade
e sarcasmo. Não é um nível de aprofundamento de personagem lá muito complexo,
mas é um que delega certa responsabilidade empoderadora para o jogador na forma
como este decide lidar com situações emergenciais ou não naquele mundo. Da
mesma forma, Kassandra torna-se uma personagem inegavelmente divertida de se
acompanhar depois de passadas algumas horas em sua companhia, com traços de
personalidade inerentes que a tornam cativante independente da forma como o
jogador a porta para o mundo.
Problemático em manter o foco narrativo como é de
costume em RPGs desta escala, Odyssey frequentemente
tropeça em estabelecer um ritmo engajante para sua história pelo simples fato
de possuir missões demais ao longo de sua jornada principal, muitas vezes
entrando em tangentes (mesmo na reta final do terceiro ato) que empatam o fluxo
da história de maneira incômoda, fazendo com que, em suas últimas horas, o fim
desta se torne mais desejado do que deveria.
Lidando com clichês de histórias de “busca de origem”
sem muita originalidade, Odyssey não
é o tipo de jogo que lhe inspirará um amontoado de emoções ou reflexões ao “rolar
dos créditos”. Dito isso, por conta de sua carismática protagonista e interessante
contexto histórico, o jogo certamente nos dá motivos para nos ancorarmos
naquele mundo, com o prazer de estarmos o desbravando como qualquer odisseia de
respeito deveria o fazer.
Abraçando de vez todas as convenções costumeiras de Role-Playing-Games modernos, durante boa
parte do tempo, Odyssey é mais
reminiscente de jogos como The Witcher 3 do
que de exemplares anteriores da série. Assim, o game não só encapsula conceitos
como árvores de habilidade e ramificações narrativas, mas também estatísticas
em nível granular para equipamentos e afins, tornando a composição de Kassandra
ao longo da jornada uma que pode se especializar em quaisquer áreas desejadas,
seja no fortalecimento dos atributos de guerreira, ou na especialização de
atributos relativos a assassinatos furtivos.
Por sinal, apesar de ser o primeiro experimento
realmente estendido da franquia com RPGs, é surpreendente e admirável não só o
quão bem Odyssey faz ótimo uso de
elementos característicos do gênero, como também evita armadilhas comuns do template. Tome por exemplo a árvore de
habilidades do jogo: permitindo a alocação de habilidades específicas de acordo
com o humor momentâneo do jogador, Odyssey
permite uma experimentação que não só é rara em RPGs, como também é
amplamente recompensada de acordo com o entendimento do jogador. Se habilidades
como a regeneração de vida são essenciais a todo o momento de combate, skills
referentes à atuação furtiva ou mais agressiva em situações de conflito podem
ser intercalados à vontade pelo jogador, dando uma maleabilidade notável para o
controle das situações. Da mesma forma, esta liberdade para experimentação
estimula constantemente a busca por evolução por parte do jogador, permitindo
uma empolgação genuína quanto a futuras aquisições de habilidades específicas,
uma vez que vai se tornando claro o que cada árvore e skill em particular faz.
No âmbito do sistema de combate, o jogo apresenta uma
extensão daquele modelo de luta introduzido em Origins, trocando o foco de ataques por animação (prevalente nos
jogos “antigos”) pela checagem de hit-scans
no travamento de lutas. Apesar de não ser visualmente tão legal quanto
sistemas de combate ancorados por animações, o sistema de embates de Odyssey é um que merece aplausos em sua
implementação. Não só variadíssimo no que toca a forma e o peso que cada tipo
de arma apresenta “na hora H”, mesmo dezenas
de horas adentro do jogo, é impossível se confortar num simples “esmagamento”
de botões. Mesmo quando se adquire experiência o suficiente para administrar
com maior maestria os cenários de ação, é preciso estar sempre atento à
situação, seja com relação aos tipos de inimigos, a quantidade destes, a barra de
poderes de Kassandra e os arredores da batalha. Dessa forma, é impossível ‘desligar-se’
do jogo em momentos de tensão durante as batalhas, uma vez que a vitória nunca
é garantida – não importando a quantidade de horas investidas no game.

Apesar de não ser um ‘divisor de águas’, Assassin’s Creed: Odyssey evidencia que, mesmo depois de mais de uma década no mercado, uma franquia ainda dispõe da capacidade de impressionar em seus experimentos, mesmo que estes a adequem em um gênero completamente diferente do originalmente prevalecido.
Quando os resultados destes experimentos concebem uma
obra tão eficiente como Odyssey o é,
é justo afirmar que a nova direção escolhida não poderia ser mais bem-vinda.
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