Por: Luigi Wagner
Lançado em 2014 a uma avalanche de (justificadas) críticas, Destiny¸ primeira empreitada em uma nova propriedade intelectual pela Bungie em algum tempo (depois do estúdio ter passado anos por conta da série Halo), era um jogo que inspirava uma dose quase paradoxal de discussões: ao mesmo tempo em que o game se mostrava um shooter impecável na execução de sua mecânica central, o jogo se demonstrava também imensamente vazio de qualquer conteúdo relevante – fosse devido a sua fraquíssima construção de mundo em uma campanha sem inspiração, ou na simples e pura falta do que fazer além de repetir incessantemente as poucas atividades ali disponíveis.
Tendo sido eventualmente “reestruturado” ao longo dos anos com suas expansões, Destiny só veio a se tornar o que propriamente se tornou com o tempo – particularmente a partir da terceira adição ao jogo, The Taken King – apresentando novas e interessantes formas de se experimentar aquele mundo que não fossem através do repetitivo grinding (repetição constante das mesmas atividades em busca de novos equipamentos característica de MMORPGs).
Esta jornada de “auto-melhora” naturalmente culmina então na sequência completa do jogo original, com Destiny 2 tirando proveito de todas as críticas e fundamentos que foram melhorados ao longo da vida do primeiro jogo para dar lugar a uma obra evidentemente dotada de maior identidade e consequência.
Passando-se algum tempo depois da última expansão do primeiro Destiny, a continuação tem início quando uma invasão em larga escala liderada pelo temeroso comandante da Legião Vermelha, Lord Ghaul (Neil Kaplan), toma lugar na Terra. Buscando extrair do Viajante(aquela esfera gigantesca do primeiro jogo) toda a Luz (pense um análogo à Força de Star Wars) para eventual dominação desta, Ghaul se mostra uma ameaça perigosa à existência da vida na Terra – restando então aos Guardiões (personagens encarnados pelos jogadores) deter esta dominação de uma vez por todas.
Demonstrando importar-se com um estabelecimento claro de um rumo narrativo e a evolução daquele universo desta vez (eu hesitaria em sequer chamar aquilo presente em Destiny 1 de “história”), a sequência chama a atenção logo em seus primeiros minutos, não só devido aos impressionantes valores de produção evidentes na bombástica missão de abertura, mas também devido ao fato de estarmos vivenciando a destruição daquele que era o hub world – e consequentemente o único espaço seguro – que conhecíamos no primeiro jogo.
A partir dali acompanhamos então uma jornada de reconstrução e reconquista da Humanidade em uma trama que faz pouco para distanciar-se de batidas dramáticas já há muito esgotadas. Assim, se é ao menos interessante ver a Bungie preocupar-se em estabelecer um conflito central para mover a história com a figura de Ghaul, os momentos de maior relevância narrativa em Destiny 2 falham em provocar qualquer empolgação legítima com a história que está sendo contada.
Os motivos para estes lapsos narrativos não são difíceis de serem percebidos: falhando em habitar aquele universo com quaisquer figuras minimamente interessantes, o roteiro do game joga seguro ao investir em aparentes personas de autoridade, como o Comandante Zavala(Lance Reddick) e a guerreira Ikora (Gina Torres) que, em tese, deveriam gerar algum tipo de euforia catártica no clímax da história, mas que, no final das contas, ficam relegados a discursos típicos de encorajamento e seriedade. E quando o jogo arrisca um tom mais leve, é impossível não sentir uma sensação de “forçação de barra”, uma vez que personagens como o alienígena Cayde-6 (vivido divertidamente pelo ótimo Nathan Fillion), parecem estar ali apenas para efeito de alívio cômico para contrapor o resto da seriedade que habita a trama.
Um dos maiores problemas narrativos de Destiny 2, no entanto, reside na incapacidade do jogo de conciliar a ideia de um mundo “persistente” e compartilhado com a ideia de uma história na qual o jogador tenha voz. Assim, é difícil comprar a noção de realização dos eventos da campanha principal sabendo que todos os outros jogadores passaram pela mesma e exata experiência – tirando qualquer peso dramático que estas possuem. Esta “falta de voz” é ainda mais fortemente evidenciada pelo fato do jogador literalmente não possuir voz na história – com quaisquer trechos de diálogos com outros personagens sendo restringidos aoGhost (o pequeno robô auxiliador que todos os Guardiões possuem).
Assim, apesar de ser empolgante ver a Bungie finalmente mergulhar na construção deste seu novo universo sem total descaso para com este, a verdade é que Destiny ainda carece de personalidade na composição de seu(s) mundo(s) – seja pela ausência de figuras que embasem o jogador ali, seja pela abordagem genérica de seus conceitos da ficção-científica.
Em termos de estrutura, Destiny 2, como jogo-base, se mostra imensamente mais denso que o primeiro jogo. Se o principal problema do game original residia na falta de conteúdo e na necessidade constante de grinding (obrigando ao jogador a repetir as missões da campanha principal vez após vez) para a obtenção de equipamento de nível alto (o famoso loot) – em Destiny 2 esse empecilho é solucionado pela simples presença de mais para se fazer.
Dessa forma, além da ótima campanha principal (que possui alguns momentos e setpieces particularmente impressionantes), existe um número significativo de atividades para serem realizadas: Aventuras, Eventos Públicos (agora, muito mais fáceis de serem achados), Setores Perdidos, Missões Paralelas espalhadas pelos planetas, o Crucible (o modo PvP – Player vs Player – de Destiny), além é claro das Missões de Assalto (eventos cooperativos relativamente extensos que requerem certa cooperação para serem completados) e as Incursões – a variedade em estrutura dos exercícios de Destiny 2 é apreciável.
Dito isso, é um tanto frustrante que basicamente a única forma que o jogador tenha de interagir com aquele mundo seja atirando. Apesar de variarem em estrutura e direcionamento, todas as atividades envolvem, em sua essência, combater levas e mais levas de inimigos. Esta falta de variedade mecânica é particularmente decepcionante considerando os belíssimos ambientes nos quais as missões costumam decorrer (especialmente aqueles da campanha), não existindo qualquer estímulo ao jogador para explorar efetivamente aquele mundo além do caminho principal, já que simplesmente não há o que fazer além de eliminar inimigos (o jogo ainda atenta algumas seções de plataforma, mas estas são, em sua maioria, demasiadamente simplórias para provocarem qualquer destaque). Considerando o espetáculo visual que são várias das ambientações de Destiny 2, acaba existindo quase que uma sensação de desperdício quanto a todas aquelas impressionante vistas.
Felizmente, o ato de atirar em Destiny 2, assim como em seu antecessor, continua fabuloso – colocando o shooter da Bungie como o provável FPS mais competente do mercado em termos puramente mecânicos. De pistolas a rifles elaborados, o disparar das armas em D2 é não só intuitivo na forma como casa com o movimento do jogador, mas é, em especial, extremamente responsivo quanto ao disparar dos “gatilhos” nos controles dos consoles. Assim, a sensação de resposta a cada disparo é tamanha, que é fácil passar horas e horas jogando e não se cansar do loop de achar hordas de inimigos, eliminá-los aos montes com prazerosos headshots, apenas para seguir, achar a próxima leva e repetir o processo.
Este loop acaba sendo ainda mais recompensador devido a constante aquisição de novas armas e equipamentos ao realizar das missões com a queda de loot aleatório por parte dos inimigos – e ver a queda de uma peça Lendária ou Rara é sempre estimulante para prosseguir com a evolução de seu personagem. E se você pretende desfrutar do conteúdo end-game de Destiny 2 (o conteúdo “pós-campanha”), como as Missões de Assalto e a desafiadora Incursão, prepare-se para um longo caminho de aquisição de loot de alto nível.
Felizmente, se você pretende embarcar nesta extensa jornada de investimento que Destiny 2oferece para os jogadores mais dedicados, o jogo apresentará seus argumentos de validade para o seu tempo (o que certamente não poderia ser dito sobre seu antecessor).
E por mais que Destiny ainda se mostre uma ficção científica moderadamente medíocre em termos narrativos e de construção de mitologia, em termos de apresentação visual e competência mecânica, o shooter da Bungie é indiscutivelmente uma obra elogiável.
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