Por: Luigi Wagner
Em 2007, a desenvolvedora incubada pela Activision, Infinity Ward, mudou a discussão acerca dos shooters contemporâneos ao deixar para trás os confrontos históricos da 2ª Guerra Mundial tão prevalentes na franquia Call of Duty, e adotar um contexto bélico atual para a série, com Modern Warfare.
Desde então favorecendo conflitos mais “modernos” como pano de fundo (com exceção de World at War, em 2008), fossem estes ambientados durante a Guerra Fria (Black Ops) ou em futuros distantes, beirando (ou mesmo abraçando por completo) a ficção científica (Black Ops 2, Infinite Warfare), Call of Duty deixou a 2ª Grande Guerra de lado por quase uma década, evoluindo suas mecânicas básicas de acordo.
Apesar do estrondoso e constante sucesso com cada entrada da franquia desde então, a série veio perdendo um fôlego relativamente razoável nos últimos anos (as vendas de Infinite Warfare, se mostraram particularmente “decepcionantes” para o padrão de COD) – levando a Activision a atentar uma “correção de rumo” e voltar aos velhos tempos – decisão que acabou levando a concepção do mais novo exemplar da franquia, apropriadamente intitulado de Call of Duty: WW2.
Situando sua campanha principal em meio ao campo de batalha europeu durante o último ano da Segunda Guerra, WW2 acompanha o soldado texano de Primeira Classe, Red Daniels(Brett Zimmermann), à medida que o protagonista, ao lado de seus colegas da 1ª Infantaria, avança em direção a retomada dos países sob dominação do Eixo.
Relativamente eficiente em estabelecer as personas dos principais membros do esquadrão na cena que abre o jogo, WW2 não demora muito para nos jogar na ação, logo de cara, com a chegada às praias da Normandia, no Dia-D. Apresentando aquela que acaba por ser uma das mais indiferentes abordagens da batalha em memória recente (apesar dos impressionantes visuais), WW2 mantém a partir de então uma visão, tanto para as missões que encapsulam a campanha quanto para a direção narrativa que norteia esta, que acaba sendo, no melhor dos casos moderadamente divertida, e no pior deles puramente esquecível.
O roteiro assinado por Jeremy Breslau até faz um trabalho relativamente competente em separar as “caras” de cada membro do batalhão principal que acompanhamos, com Zussman(Jonathan Tucker) se mostrando o “alívio cômico” da equipe, o Sargento William Pierson (Josh Duhamel) sendo o segundo-em-comando autoritário e antipático e o Tenente Joseph Turner(Jeffrey Pierce), que demonstra segurança em manter-se um líder ao mesmo tempo empático a seus subordinados, mas firme às exigências da missão. Apesar disso, as personalidades de todos estes indivíduos não saem do espectro que já vimos outras milhares de vezes em histórias semelhantes (e melhor realizadas) como O Resgate do Soldado Ryan ou Band of Brothers – e aquele companheirismo criado entre Red e Zussman, por exemplo, acaba sendo particularmente vergonhoso de se acompanhar, dada a tamanha artificialidade com a qual é construído.
Esta artificialidade, por sinal, é uma constante na abordagem narrativa de WW2 como um todo, com o jogo às vezes beirando o belicismo no seu retrato da guerra, criando sequências que quase que romantizam eventos que deveriam ser vistos com olhos invariavelmente trágicos. E mesmo quando WW2 dá indícios de que vai tratar de alguns temas particularmente delicados acerca do conflito, como o compartilhamento dos campos de batalha por brancos e negros ou então a realidade inconcebível dos campos de concentração nazistas, o jogo logo desvia sua atenção para a criação de momentos bombásticos com suas absurdas setpieces(que, por sinal, são algumas das mais fracas da franquia em anos).
Esta aproximação notavelmente artificial de WW2 é perfeitamente simbolizada por sua covarde e tosca conclusão que, apelando para a “sorte” de alguns de seus personagens principais, encerra sua história em uma nota que, ao invés de trazer qualquer tipo de reflexão acerca dos estragos irrecuperáveis da guerra, prefere encerrar-se em uma nota de “felizes para sempre” – possivelmente para evitar mandar o jogador aos créditos com uma sensação de desconforto, como deveria o ser.
Para toda a demonstração de “coragem inabalável” que WW2 retrata durante a maior parte de sua história, é no mínimo um tanto irônico que o jogo acabe demonstrando então tamanha covardia ao contá-la.
Por “voltar ao passado”, no âmbito da jogabilidade momento-a-momento, Call of Duty: WW2acaba remetendo mais aos jogos pré-Advanced Warfare do que àqueles da série dos últimos três anos. Assim, todo aquele senso de verticalidade com o qual nos acostumamos com os recentes exemplares da franquia (fossem os “pulos a jato”, o andar nas paredes etc) dão lugar ao clássico esquema de correr e atirar corriqueiro das eras antigas de Call of Duty.
Esta retirada de mecânicas que vieram a se tornar integrais à série em seus tempos recentes vem com suas vantagens e desvantagens. Se por um lado é frustrante ter habilidades que viemos a tomar como certas retiradas do fluxo principal dos combates em COD, é também no mínimo refrescante voltar a se preocupar apenas com um cerco de 360 graus para a percepção de inimigos no campo de batalha. O contexto histórico resulta também na prominência um pouco mais significativa de armas semi ou não automáticas – o que confere ao jogo um ritmo moderadamente mais lento – ou melhor, “menos acelerado” – que dos últimos games da série.
Apesar disso, esta pequena sensação de cadência é quase imperceptível se comparada com outros jogos com abordagens históricas semelhantes mais recentes, como o ótimo Battlefield 1, que aproveitava de seu contexto histórico na 1ª Guerra para a construção de cenários de combate notavelmente mais intimistas e contemplativos, para o melhor dos efeitos (o que se deve em muito também ao “peso” mais notável do shooter da DICE). Assim, apesar de se passar durante a Segunda Grande Guerra, WW2 mantém-se um FPS “leve” de se jogar e com o costumeiro compasso imediato de Call of Duty – mantendo a jogabilidade urgente, mas indiscutivelmente divertida da franquia. E por mais que careça de virtualmente qualquer senso de estratégia além do “quem atira primeiro” – um aspecto que a franquia deixou de lado desde Modern Warfare 3 – WW2 não deixa de se configurar como garantia certa de entretenimento se você tem qualquer apreço pela série – em especial no seu componente multiplayer.
Por falar neste, WW2 traz aquela que é uma das mais significativas adições ao modo online da franquia em anos com o Headquarters (ou Quartel General). Servindo como o hub world do componente online do jogo (pense um análogo direto à Torre de Destiny), o Headquartes dá espaço para o jogador comprar itens, adquirir contratos, abrir loot boxes (sim, estas estão presentes aqui…), assistir a vídeos no “cineminha” do quartel, ou mesmo apenas treinar a afinidade com o gatilho nos espaços de tiro-ao-alvo. Não é uma adição que muda fundamentalmente a forma de se jogar Call of Duty, mas é uma que traz uma impressão de lugar maior bem-vinda ao lado do multiplayer da série.
Possuindo ainda um divertidíssimo modo Zombies (sem surpresas, intitulado de Nazi Zombies), WW2 apresenta aquela que é provavelmente a mais divertida versão do componente em anos. Com um mapa principal situado em uma macabra cidadezinha alemã perdida no mapa, o jogo concebe aquela que é uma das locações mais dinâmicas e divertidas de se explorar que o modo já teve – tornando a dizimação de hordas e hordas de zumbis indiscutivelmente revigorante.
Com tamanha variedade, é difícil apontar Call of Duty: WW2 como uma obra marcadamente decepcionante – mesmo que cometa sua boa parcela de tropeços ao tentar voltar aos “velhos tempos”.
E se sua campanha decepciona de forma lamentável (especialmente se comparada com aquela fantástica e subestimada campanha de Infinite Warfare do ano passado), WW2 ao menos compensa com seu multiplayer consistentemente divertido e sua ótima abordagem com “zumbis nazistas”.
Dito isso, talvez a Activision devesse considerar que a falta de fôlego de uma franquia não necessariamente implica que a solução esteja em voltar àquilo que já foi feito exaustivamente no passado…
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