segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Análise - Assassin's Creed: Odyssey



Por: Luigi Wagner

Depois de passar anos refém do modelo de anualização imposto pela Ubisoft a partir do segundo jogo em 2009, Assassin’s Creed só foi ganhar um descanso momentâneo entre 2015 (Syndicate) e 2017 (Origins), quando, na tentativa de dar um overahaul geral na série com Assassin’s Creed: Origins, a Ubisoft deu a primeira adentrada apropriada da franquia no âmbito dos RPGs ocidentais modernos.

Chegando agora apenas um anos após o lançamento do jogo (apesar da companhia prometer “não haver nenhum novo game na série em 2019”), Assassin’s Creed: Odyssey é a oficialização de Assassin’s Creed como não mais um mero jogo de ação e aventura com elementos de RPG, mas um RPG ocidental propriamente dito, nos moldes de gigantes como The Witcher 3: Wild Hunt e Skyrim.

Situando-se em uma Grécia Antiga, em 431 AC (ou seja, 400 anos antes do jogo anterior), Odyssey contextualiza sua história em meio a Guerra do Peloponeso – guerra que se estendeu entre várias cidades-estado gregas (em especial entre esforços liderados por Esparta e Atenas). Em meio ao conflito, (pela primeira vez na série) temos a possibilidade de escolher entre dois protagonistas para liderar a história: Kassandra (Melissanthi Mahut) ou Alexios (Michael Antonakos). Feita a escolha, o jogador, no papel de misthios (Mercenário), acompanhará a história de um dos irmãos à medida que este desvenda mistérios acerca de seu passado em meio ao pano de fundo da guerra.


[Como o redator que vos escreve acompanhou a história sob a perspectiva de Kassandra, é esta que será tomada como base para análise].

Longe de ser original em termos de trama ou abordagem narrativa para um RPG do gênero, Assassin’s Creed: Odyssey atinge moderado sucesso em manter o jogador compelido a chegar ao final de sua (absurdamente) extensa linha narrativa principal (que, por si só, divide-se em outras linhas adjacentes).

Eficiente ao possibilitar o jogador a definir de forma geral como Kassandra se porta em situações de decisão ou de peso moral, é possível moldar a protagonista em uma mulher mais comedida, calma e calculista ou então transformá-la em uma guerreira mais movida por impulsos, agressividade e sarcasmo. Não é um nível de aprofundamento de personagem lá muito complexo, mas é um que delega certa responsabilidade empoderadora para o jogador na forma como este decide lidar com situações emergenciais ou não naquele mundo. Da mesma forma, Kassandra torna-se uma personagem inegavelmente divertida de se acompanhar depois de passadas algumas horas em sua companhia, com traços de personalidade inerentes que a tornam cativante independente da forma como o jogador a porta para o mundo.


Problemático em manter o foco narrativo como é de costume em RPGs desta escala, Odyssey frequentemente tropeça em estabelecer um ritmo engajante para sua história pelo simples fato de possuir missões demais ao longo de sua jornada principal, muitas vezes entrando em tangentes (mesmo na reta final do terceiro ato) que empatam o fluxo da história de maneira incômoda, fazendo com que, em suas últimas horas, o fim desta se torne mais desejado do que deveria.

Lidando com clichês de histórias de “busca de origem” sem muita originalidade, Odyssey não é o tipo de jogo que lhe inspirará um amontoado de emoções ou reflexões ao “rolar dos créditos”. Dito isso, por conta de sua carismática protagonista e interessante contexto histórico, o jogo certamente nos dá motivos para nos ancorarmos naquele mundo, com o prazer de estarmos o desbravando como qualquer odisseia de respeito deveria o fazer.


Abraçando de vez todas as convenções costumeiras de Role-Playing-Games modernos, durante boa parte do tempo, Odyssey é mais reminiscente de jogos como The Witcher 3 do que de exemplares anteriores da série. Assim, o game não só encapsula conceitos como árvores de habilidade e ramificações narrativas, mas também estatísticas em nível granular para equipamentos e afins, tornando a composição de Kassandra ao longo da jornada uma que pode se especializar em quaisquer áreas desejadas, seja no fortalecimento dos atributos de guerreira, ou na especialização de atributos relativos a assassinatos furtivos.

Por sinal, apesar de ser o primeiro experimento realmente estendido da franquia com RPGs, é surpreendente e admirável não só o quão bem Odyssey faz ótimo uso de elementos característicos do gênero, como também evita armadilhas comuns do template. Tome por exemplo a árvore de habilidades do jogo: permitindo a alocação de habilidades específicas de acordo com o humor momentâneo do jogador, Odyssey permite uma experimentação que não só é rara em RPGs, como também é amplamente recompensada de acordo com o entendimento do jogador. Se habilidades como a regeneração de vida são essenciais a todo o momento de combate, skills referentes à atuação furtiva ou mais agressiva em situações de conflito podem ser intercalados à vontade pelo jogador, dando uma maleabilidade notável para o controle das situações. Da mesma forma, esta liberdade para experimentação estimula constantemente a busca por evolução por parte do jogador, permitindo uma empolgação genuína quanto a futuras aquisições de habilidades específicas, uma vez que vai se tornando claro o que cada árvore e skill em particular faz.

No âmbito do sistema de combate, o jogo apresenta uma extensão daquele modelo de luta introduzido em Origins, trocando o foco de ataques por animação (prevalente nos jogos “antigos”) pela checagem de hit-scans no travamento de lutas. Apesar de não ser visualmente tão legal quanto sistemas de combate ancorados por animações, o sistema de embates de Odyssey é um que merece aplausos em sua implementação. Não só variadíssimo no que toca a forma e o peso que cada tipo de arma apresenta “na hora H”, mesmo dezenas de horas adentro do jogo, é impossível se confortar num simples “esmagamento” de botões. Mesmo quando se adquire experiência o suficiente para administrar com maior maestria os cenários de ação, é preciso estar sempre atento à situação, seja com relação aos tipos de inimigos, a quantidade destes, a barra de poderes de Kassandra e os arredores da batalha. Dessa forma, é impossível ‘desligar-se’ do jogo em momentos de tensão durante as batalhas, uma vez que a vitória nunca é garantida – não importando a quantidade de horas investidas no game.




Dispondo de um mapa gigantesco para o desenrolar da aventura, o mundo de Odyssey é um daqueles que intimida mesmo 50 horas adentro de sua jornada, tamanha sua escala. Mesmo depois de dezenas de horas de jogatina, abrir o mapa e perceber a quantidade de ilhas inteiras ainda não exploradas é o suficiente para assustar tanto os jogadores mais casuais, como os complecionistas. Felizmente, Odyssey conta duas possibilidades para a exploração de seu mundo: o modo ‘Guiado’ (que indica no mapa sempre de forma exata a localização de objetivos de qualquer quest adquirida) e o modo 'Explorador' que, indicado pela Ubisoft como a “forma recomendada” de se experienciar o jogo, aponta o jogador para uma ‘direção geral’ para a localização de objetivos e elementos no mundo, sendo necessário uma noção e exploração muito mais ciente do mundo por parte deste. Não surpreendentemente, o modo Explorador é certamente o mais interessante para a progressão em Odyssey, disfarçando com moderada competência a repetitividade estrutural dos mundos-abertos popularizados pela Ubisoft.



Apesar de não ser um ‘divisor de águas’, Assassin’s Creed: Odyssey evidencia que, mesmo depois de mais de uma década no mercado, uma franquia ainda dispõe da capacidade de impressionar em seus experimentos, mesmo que estes a adequem em um gênero completamente diferente do originalmente prevalecido.

Quando os resultados destes experimentos concebem uma obra tão eficiente como Odyssey o é, é justo afirmar que a nova direção escolhida não poderia ser mais bem-vinda.


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