domingo, 16 de dezembro de 2018

Análise - Battlefield V


Por: Luigi Wagner

Após voltar ao seu passado mais distante até agora, na Primeira Grande Guerra, com Battlefield 1, em 2016, o estúdio sueco DICE decidiu avançar algumas décadas para o eventual próximo grande conflito mundial e, coincidentemente, para o contexto histórico que embasou o nascimento da série.

Assim, em Battlefield V, tem-se aquela que é a mais “moderna experiência Battlefield” e, ao mesmo tempo, a maior chamada ao passado da série em alguns anos ao situar seu âmbito durante a Segunda Guerra Mundial.



Voltando a estruturar seu modo história no mesmo modelo daquele presente em Battlefield 1, BF V conta também com vinhetas de histórias separadas, ao invés de uma grande campanha principal, naquelas que são chamadas “História de Guerra”.

Mais eficiente em demonstrar uma variedade maior entre suas histórias do que no jogo anterior, as War Stories de Battlefield V atingem relativo sucesso no quesito de serem mais eficientes narrativamente e melhor estruturadas em questão de level design. Assim, se a História de guerra envolvendo dois soldados ingleses infiltrando bases militares na ilha grega de Creta não faz muito para nos prender dramaticamente no companheirismo da dupla protagonista, naquela história envolvendo uma fuga orquestrada entre mãe e filha nos altos Alpes da Noruega, simpatizamos um pouco mais com a causa das mulheres. Da mesma forma, a História de Guerra intitulada ‘Tirailleur’, focando no avanço de soldados africanos em nome do exército francês, faz um bom trabalho em evidenciar o racismo presente dentro das tropas e o absurdo da natureza de morrer por um país que muitos daqueles soldados jamais chegaram a sequer conhecer. Por fim, a última War Story, intitulada ‘The Last Tiger’ é eficaz ao evitar retratar o exército alemão como um conjunto de figuras exclusivamente caricatas, tratando seus personagens como indivíduos complexos e compreensivelmente desesperados pelo iminente fim dos esforços de seu lado.

Competente em isolar histórias de facetas diferentes e de menor escala no grande escopo da 2ª Guerra, o modo War Stories de Battelfield V merece reconhecimento também por manter o idioma original de seus personagens de acordo com o contexto no qual estão inseridos, sem apelar para o velho costume tosco de “americanizar” tudo, contribuindo assim ainda mais para o sucesso de sua abordagem histórica.


Trazendo um modo multiplayer que parece ser o pináculo de várias filosofias de design da série ao longo dos anos, BF V trás uma ênfase cooperativa de esquadrões ainda maior do que aquela vista em iterações anteriores.

Com diversos pequenos detalhes que fazem da especialização de classes um diferencial notável para o exercício de tarefas entre os membros de um esquadrão (ou do time), Battlefield V acerta ao provocar o sentimento frequente de estarmos, de fato, contribuindo para os avanços de nosso lado. Assim, tornar exclusiva a função de marcar inimigos para a classe de Atirador de Elite (antes disponível para qualquer classe), faz de seus adeptos peças notavelmente mais importantes para o mantimento da ciência do campo de batalha (ao invés de ficarem relegados a mandar headshots à distância sem contribuição maior). Da mesma forma, a habilidade de reviver colegas com maior rapidez na função de Médico e a de construir defesas com mais facilidade na posição de um Engenheiro fazem das respectivas classes mais importantes para diferenciação estratégica.

Contando com uma ênfase menor no uso de veículos no campo de batalha, a presença destes passa a ter maior relevância quando acontece, tornando os tanques de guerra, em particular, ferramentas devastadoras de acordo com o posicionamento no mapa. Além disso, um reduzido TTK (Time To Kill – Tempo Para Matar), faz de Battlefield V um jogo com um grau de urgência mais adequado e divertido para a fluidez das batalhas.
[E aqui preciso apontar que a DICE, por meio de uma atualização, mexeu nas métricas de TTK nesta semana com resultados visivelmente desastrosos, provocando um grande desbalanço em virtualmente todas as armas, problematizando um elemento que estava devidamente estruturado e, naturalmente, provocando um alvoroço (justificado) na comunidade do jogo. É uma questão que está fadada a ser “reconsertada” em uma eventual atualização, mas que não deixa de ser particularmente frustrante]

Contando com os modos de jogo que viemos a esperar de um Battlefield¸ BFV continua tendo seu “carro-chefe” nas batalhas de grande escala no modo Conquest, apesar de ter no modo Grand Operations talvez a atração mais interessante, com três rounds de modos de jogo diferentes, entrelaçados por meio de uma linha narrativa tênue, mas instigante para a progressão dos embates.

Com uma seleção de mapas lamentavelmente curta (sendo que os próximos vão chegar por meio de atualizações gratuitas), Battefield V compensa não só na variedade e estrutura destes (que, via de regra, adequam múltiplos modos de jogos de forma consistente), mas também no espetáculo visual e sonoro que encapsula. O resultado são alguns dos conflitos mais espetaculares passíveis de serem realizados em uma partida online em tempos recentes, convencendo com competência a escala de suas batalhas para os jogadores envolvidos.



Com um aspecto, no geral, iterativo quando avaliado em conjunto com seus antecessores mais recentes, Battefiled V não necessariamente surpreende ou atenta algo além da zona de conforto da série (além de contar com uma relativa “falta de conteúdo” em seu estado de lançamento inicial). Dito isso, com uma infinidade de pequenos ajustes de design, uma competência mecânica inquestionável nos parâmetros de FPS’s modernos e seu casamento entre visuais e sons fantásticos, fazem de BF V um dos melhores exemplares da franquia militar até hoje.

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