Por:
Luigi Wagner
A
ideia de uma remake é frequentemente
mal vista dentro do mundo da Sétima Arte. E não é por nada. A prospectiva de
recontar a história de clássicos como O Poderoso Chefão ou Taxi Driver é não só
fútil (afinal, ambos são obras-primas atemporais), como também arriscada (o
peso histórico do material fonte é gigantesco).
Claro,
não é certo generalizar que remakes no
Cinema são sempre exercícios infrutíferos e, ocasionalmente, projetos acertam
ao adotar uma perspectiva nova para o material (como o recente Suspiria, nova versão do clássico italiano
de terror, de 1977). Infelizmente, porém, atualmente, a maioria de projetos do
tipo está relegada a uma atualização tecnológica do material fonte, em pouco
acrescentando a sua inspiração original.
No
mundo dos videogames, no entanto, a ideia de um remake é naturalmente mais atrativa. Por se tratar de uma mídia que
depende intrinsicamente da base tecnológica na qual é produzida, os games são
frequentemente um reflexo do status quo de
sua tecnologia contemporânea, naturalmente exibindo tantos os avanços como as
limitações de tal. Dessa maneira, a ideia de reintroduzir uma obra com todos os seus
componentes técnicos atualizados pode ser extremamente tentadora para certos
tipos de projetos, em especial aqueles que são claramente beneficiados pelos
avanços gráficos para a retratação de seus mundos.
E é justamente nesta categoria que Resident
Evil 2 se encaixa.
Reimaginação
do clássico de 1998 e sequência daquele que é considerado como “o grande pai”
dos survival horrors, Resident Evil 2 toma
como base os personagens e linha narrativa principal do jogo original e os
estrutura sob uma roupagem completamente nova.
Deixando
de lado a perspectiva de câmeras fixas dos jogos iniciais da franquia em favor
da visão de “over the shoulder” popularizada
a partir do quarto jogo da série, RE2 tem
início quando o policial novato Leon Kennedy (Nick Apostolides) e a estudante
Claire Redfield (Stephanie Panisello) cruzam seus caminhos durante um incidente
a caminho de Raccoon City. Não demora muito para a dupla perceber que um surto
que transforma as pessoas em zumbis tomou conta da cidade, relegando aos dois
descobrir o que aconteceu ali e escapar com os sobreviventes que encontram ao
longo do caminho.
Dispondo
de duas campanhas distintas – uma para Claire e outra para Chris – RE2 permite que o jogador opte por qual
personagem escolher para a “1ª Jornada” do jogo, naturalmente fazendo a 2ª
jornada com o outro personagem.
Sendo
bastante semelhantes na estrutura e nos lugares que visitamos em cada uma, as
jornadas se diferem na ordem de descoberta dos elementos/lugares e na
exploração de alguns ambientes particulares. Fora isso, em cada uma, Chris e
Claire se deparam e se envolvem com personagens distintos e relevantes para a
própria trama, dando um “sabor diferente” a cada uma.
Eficaz
ao nortear o rumo da trama e engajar o jogador a cumprir a missão, a empreitada
narrativa de Resident Evil 2 não é
das mais impressionantes no resto. Apresentando um charme do ‘tosco’ característico
de histórias de ação e terror da década de 90, mas fazendo pouco mais para nos
investir naquele universo, o roteiro do game é particularmente frágil no que
toca ao estabelecimento de seus personagens principais para além de seus traços
superficiais e na interação entre estes. Assim, se Claire é uma garota
relativamente carismática devido a performance de Stephanie Panisello, o
roteiro faz pouco para retratá-la além do arquétipo de uma “Mary Sue”, enquanto Leon não só permanece como um indivíduo sem personalidade,
como também demonstra um nível de ingenuidade e desligamento dos seus arredores
que chega a ser risível. Para piorar, a tentativa da história de criar algum
laço do jogador para com a relação dos protagonistas é hilária (no mal
sentido), colocando os personagens para expressarem brados de companheirismo
meros minutos depois de se conhecerem sem qualquer resquício de ressonância
dramática.
Apesar
de tudo isso, o charme inerente na direção da história e no abraço a sua
natureza tosca nos impedem de levar a trama muito a sério, nos relegando então
a apreciar a maior das virtudes de Resident
Evil 2: o exercício do survival
horror.
Eficiente ao estabelecer um ritmo de tensão constante, em RE2, o conforto com relação à sobrevivência parece estar sempre a
um passo de desmoronar. Assim, se você tem suprimentos para se manter “curado”,
as chances são de que você se encontra carente de munição. Da mesma forma, a
partir do primeiro momento no qual o jogador começa a manter ciência do layout da delegacia na qual boa parte do
jogo se passa, RE2 vai e introduz o
infame Mr. X (ou Tirano) – um monstro aterrador que roda aquele ambiente
inteiro, sempre atrás dos passos de Claire e Leon, impossibilitando qualquer
sensação de segurança naquele lugar. Mantendo este ritmo de incessante tensão,
combinado com uma progressiva sensação de poder de fogo na reta final das
campanhas, Resident Evil 2 se encerra
em um ponto que o início imediato de uma nova Jornada com outro personagem é
intuitivo – afinal, o conhecimento acerca da estrutura dos ambientes do jogo
adiciona uma perspectiva empoderadora e revigorante, ainda que jamais livre da
aflição da primeira corrida.
Impecável
na criação de seus ambientes (a delegacia, a cidade, a seção subterrânea e o
laboratório do terceiro ato são todos assustadoramente detalhados e exalam
histórias e personalidades próprias) e excepcional na jogabilidade
momento-a-momento (explodir cabeças de zumbis talvez nunca foi tão prazeroso), RE2 acaba se estabelecendo como um exemplar
inquestionavelmente admirável para a série, seguindo alguns templates característicos da franquia,
mas os quais são realizados de forma tão competente, que é impossível julgar a
obra por “falta de inovação”.
Na verdade,
se Resident Evil 7 e este novo Resident Evil 2 são indicativos do rumo
do survival horror dentro da série, a
franquia de terror da Capcom não poderia estar mais bem encaminhada.
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