quinta-feira, 2 de maio de 2019

Análise - The Division 2








Em um mundo onde a competição pela atenção constante dos jogadores parece ser um dos apelos centrais das produtoras e publishers nos videogames, os jogos caracterizados como live-services possuem, em sua essência de design, ciclos que visam estar sempre disponibilizando novidades (ainda que ínfimas) para seus adeptos.

Neste âmbito, os tais dos looter-shooters (jogos de tiro com recompensas baseadas em loot) se tornaram algumas das obras mais proeminentes, com exemplares grandes em jogos como Destiny e The Division.

Frequentemente problemáticos em seus lançamentos, tais jogos sempre encontraram dificuldade, particularmente, no esclarecimento e na disponibilização de um fluxo claro de conteúdo principal e de “pós-jogo” (o famigerado endgame).

Considerando que estes tropeços quase que se tornaram uma regra no lançamento de jogos do gênero, é um tanto revigorante perceber que The Division 2, sequência do jogo inspirado pelo universo de Tom Clancy, de 2016, é uma obra que acerta logo de cara tanto na estruturação de sua campanha principal, como de seu endgame.



Tendo agora como pano de fundo a extensa Washington D.C. (depois da excelente recriação de Manhattan no primeiro jogo), The Division 2 situa o jogador mais uma vez no papel de um Agente do governo que – no velho estilo Tom Clancy – é responsável pela “imposição da ordem” após o surto epidêmico que atingiu várias partes do mundo alguns meses antes.

Possuindo em seu exercício narrativo o único ponto de maior fraqueza quando comparado ao jogo anterior, The Division 2 faz pouquíssimo para manter o jogador investido em sua história principal, dispondo de várias figuras militares aleatórias que parecem estar ali apenas para nos dar ordens e direcionar para missões. E se na abordagem de sua trama principal o primeiro jogo era também notavelmente fraco, pelo menos em sua construção narrativa através de áudios e gravações encontradas pelo mundo, o game acertava ao pintar o retrato do caos dos sobreviventes nos períodos logo seguintes ao “apocalipse”. O mesmo infelizmente não pode ser dito sobre The Division 2, que ao focar 95% das gravações e áudios em integrantes das facções inimigas que encontramos pelo mundo, faz pouco para diferenciar estas entre si, ao mesmo tempo que não estimula interesse na decadência daquela parte do mundo em particular.



Acaba que os esforços narrativos da sequência que de fato funcionam são aqueles embasados pelas próprias e impecavelmente construídas ambientações que encapsulam a Washington D.C. do jogo, que se mostram surpreendentemente diversas em estilo e estrutura.

Eficaz ao estimular a exploração dos vários cantos da capital estadunidense já por esta versatilidade de personalidades em cada ambiente (que vão desde museus que contam trechos da Guerra do Vietnã a planetários e o congresso norte-americano), The Division 2 eleva esta ‘curiosidade’ ao máximo devido a constante recompensa por se explorar, já que o fazer frequentemente resulta na descoberta de armas, equipamentos, materiais e utensílios sempre úteis para as batalhas, como granadas e armaduras.

Esta disposição inteligente de componentes, por sinal, é um dos principais motivos pelos quais The Division 2 é tão eficaz na transmissão de sensação de progresso. Assim, se a descoberta de armas e equipamentos é naturalmente estimulante pela subida de níveis destes, a descoberta de materiais (e a ‘destruição’ de loot em excesso para obtenção destes) é também recompensadora a médio e longo prazo, uma vez que tais materiais podem ser doados para acampamentos que acabam por disponibilizar não só novos recursos para o jogador, como também equipamentos antes inatingíveis (como anexos/attachments para armas). Estendendo esta sensação de progresso para o próprio endgame do jogo (que chega a adicionar uma nova e ameaçadora facção de inimigos), The Division 2 é capaz de arrancar horas e horas do jogador comum, mantendo o fluxo de progresso do início ao ‘fim’ com uma naturalidade invejável.




Por fim, é justo afirmar que esta sensação de progresso seria de pouca relevância caso o game não fosse divertido de se jogar momento-a-momento. Felizmente, apesar de contar com pouca variedade na estruturação das missões (todas, sem exceção, envolvem tiroteios), The Division 2 é particularmente primoroso em suas mecânicas de tiro. O simples ato de atirar na sequência, por exemplo, é infinitamente mais prazeroso do que no jogo anterior, visto que a ação é embasada pelo fantástico design de som das armas, além do jogo contar com inimigos bem menos “esponjosos” e que em suas animações de “recebimento de tiros” reagem de forma muito mais orgânica aos disparos do jogador. Junta-se também o fato de que o game conta com uma variedade surpreendente de tipos de inimigos que, quando combinados, de fato requerem estratégias para enfrentamento de acordo com cada locação (e o game merece aplausos pelo design de levels de cada missão), e The Division 2, em termos puramente mecânicos, se valida como um jogo extremamente divertido de se engajar momento-a-momento (seja sozinho ou com amigos).

Com alguns lapsos técnicos ocasionalmente chamativos (pop-ins são particularmente frequentes), no escopo geral, The Division 2 acaba se estabelecendo como uma empreitada extremamente acertada por parte da Ubisoft, obtendo sucesso na maior parte de suas decisões de design e, acima de tudo, mostrando á indústria que o lançamento de “jogos como serviço” não necessariamente precisa estar atrelado à problemas e frustrações que só serão consertados meses depois.

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